Nossas carreiras não podem esperar a igualdade
Publicado em:
30 Maio 2021
Executivas, médicas-veterinárias, mestres, doutoras… A lista de possibilidades de atuações no campo profissional é grande e tem opção para todo mundo. É comum, desde a infância, identificar-se com alguma delas, seja por um exemplo familiar ou, para quem acredita, pela própria vocação. Esse ideal profissional vem acompanhado de princípios legislativos que, em tese, garantem esse direito desde 1988:
“Proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo…”, diz a Constituição, datada do século passado. Entretanto, na prática, pesquisas apontam que isso não é parte da realidade de muitas trabalhadoras.
Quando o tema é cargo, apenas 41,8% dos diretores e gerentes são do sexo feminino, ainda que representem a maioria de profissionais das ciências e intelectuais (63%), como expõe os dados divulgados em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
Disparidades como estas, tornam o Dia Internacional da Mulher um momento de reflexão e, ainda, de homenagens as tantas que, mesmo diante de diferenças, conseguiram alcançar seus cargos almejados ainda quando meninas.
Ávida pelo saber. “Desde os 4 anos dizia que queria ser veterinária”, narra Aline Rocha, formada há 34 anos na profissão de seus sonhos. Hoje, gerente Regional de Serviços Veterinários da Ceva Saúde Animal, a profissional comenta as mudanças do mercado ao longo desses anos: “Eu comecei na avicultura em uma época que as mulheres praticamente não trabalhavam no campo e hoje, vemos equipes compostas quase exclusivamente por mulheres”, pontua.
Formada aos 21 anos, pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Aline teve nos pais e nos livros suas inspirações para a vida. Logo, iniciou um estágio na área que permanece até hoje: a avicultura. Uma oportunidade única, mas que traz lembranças sobre as dificuldades do setor na época:
“Eu acompanhava o gerente de produção, experiente naquele trabalho e feliz por ensinar o que sabia a alguém ávido por aprender. Alguns meses depois, ele se aposentou e o veterinário do incubatório saiu da empresa. Quando pensei em me candidatar à vaga, descobri que a empresa já havia colocado um anúncio, especificando o gênero masculino como uma das características necessárias ao cargo”.
Esse não foi o único obstáculo imposto, antes disso, Aline conta ter passado por uma situação parecida, em uma seleção de candidatos para a inspeção sanitária de uma grande rede de hipermercados. “O recrutador simplesmente pediu que todas as candidatas se retirassem da sala, porque a vaga era para um homem. Ninguém denunciava essas coisas e, apesar de me sentir insultada, não deixei que isso ditasse meu futuro”, enfatiza a profissional.
Mas nem todas as portas se fecharam, sua persistência a colocou na liderança de uma equipe de mais de 100 funcionários aos 25 anos. Atualmente, na Ceva, apoia tecnicamente a equipe comercial da regional Centro-oeste/Sudeste, onde realiza boa parte de seu trabalho no campo.
“As mulheres estão em todos os setores da avicultura. Como empresárias bem-sucedidas, como gestoras extremamente eficientes, como técnicas exigentes e perfeccionistas, como vendedoras persistentes e eficazes. Na Ceva, temos esses exemplos em todos os setores da empresa. Mas, temos todos esses exemplos em figuras masculinas também. O bom mesmo, é não precisarmos mais nos preocuparmos com esse detalhe”, complementa.
Persistência e união. “Nunca desisti de nada que eu quisesse muito. Tenho orgulho dessa minha força de vontade. Não sou de começar um trabalho e não acabar, porém reconheço que sozinha não consigo ir muito longe, então, também me orgulho de participar de uma equipe tão unida como a da Ceva”, relata Bibiana Bampi, gerente de Contas Estratégicas da Ceva Saúde Animal.
Formada há 11 anos na Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc), a profissional teve no pai, médico-veterinário, e na mãe, política, suas principais referências para trilhar sua vida profissional. Hoje, recém-promovida na Ceva, sua trajetória servirá de inspiração para a filha, que deve nascer em breve.
“Tive a felicidade de ser promovida grávida, mas há 6 anos tinha medo de engravidar e perder o emprego. Felizmente estamos em um momento que podemos falar e apontar comportamentos que não devem ser tolerados”, analisa Bibiana.
Em relação às desigualdades no mercado de trabalho, a profissional é enfática ao ponderar: “Apesar da importância de falar e agir sobre o assunto, para que continuemos a avançar na direção de um mundo mais igual, a realidade é que não podemos nos dar o luxo de esperar isso acontecer para, então, avançar profissionalmente”.
Para lidar com os obstáculos, Bibiana reforça a importância do autoconhecimento como forma de se fortalecer neste cenário. A profissional e futura mamãe, também aponta a sororidade – apoio entre as mulheres – como outra questão fundamental para o crescimento de todas.
Movida pela paixão. “Me apaixonei pela avicultura ainda na faculdade, estudei na Universidade Federal de Goiás e fiz meu estágio curricular com avicultura e saí empregada na área. De lá para cá se passaram 20 anos”. A história de amor pela avicultura, contada por Polyana Arruda, gerente Nacional de Vendas Avicultura da Ceva Saúde Animal, iniciou ainda na infância, com o sonho da medicina-veterinária.
Recém-formada, atuando como sanitarista de frango de corte, Polyana embarcou em um mestrado na Universidade de São Paulo (USP). Toda a experiência profissional, adquirida nessa trajetória, a fizeram passar por boa parte do País. “Morei em diferentes regiões do Brasil, o que me proporcionou conhecer a avicultura nacional com um todo”, comenta.
Hoje, a rotina é dividida entre viagens de negócios, reuniões e família. “Sou movida pela paixão ao que faço, procuro me reinventar sempre, para fazer tudo da melhor forma possível e me tornar uma pessoa e profissional cada dia melhor”, enfatiza.
A transformação do mercado de trabalho foi sentida na pele por Polyana, que observou tratamentos diferentes entre os gêneros em sua trajetória: “No início da minha carreira tive muitas dificuldades por ser mulher, num mundo ainda muito masculino. Tive que provar competência e capacidade, mas com determinação, persistência e demostrando muito respeito a todos independente do gênero, fui conquistando meu espaço e hoje sei que não deixo nada a desejar por ser mulher”.
Na avicultura, a profissional salienta o aumento da representatividade com o passar dos anos e pondera: “Ainda existe uma baixa porcentagem de mulheres em cargos de alta gestão. Temos um largo caminho a ser trilhado para equalizar essa representatividade”.
Ao relembrar os caminhos trilhados até a recém-promoção na Ceva, Polyana celebra suas conquistas: “Tive vários momentos que me deram orgulho como conseguir fazer e terminar meu mestrado trabalhando, morar em vários Estados para reconquistar regiões até então abandonadas e sempre entregar as metas propostas”; complementa: “Ser promovida recentemente foi um dos meus maiores orgulhos”.
Seja você. “Tive o privilégio de trabalhar com mulheres inspiradoras desde a agroindústria, dentre elas, minha supervisora, na época, com quem aprendi muito. Hoje, tenho muitas colegas ocupando lugares de destaque na avicultura, merecidamente”, enaltece Graziela Borges, gerente Regional de Serviços Veterinários.
A profissional conta que, durante a faculdade, em um de seus estágios, ouviu a afirmação de que “mulheres não eram para aquilo” vinda de um dos produtores. Hoje, considera que o mercado tenha mudado, dando mais espaço para a participação feminina. Por meio de ferramentas de monitorias e diagnóstico, Graziela atualmente vive boa parte de seu dia a dia em visitas a campo, realizando coletas de material e interpretação de resultados laboratoriais.
Um forte exemplo em sua vida, vindo de sua própria casa, mostra a importância de se trabalhar referenciais de empoderamento desde a infância como ferramenta de transformação. “Meu pai sempre deu muito apoio e demonstrou muito respeito pela minha mãe, a incentivando em seu trabalho e, até mesmo, a cursar ensino superior, quando eu ainda era adolescente e meus irmãos crianças”, comenta.
Graziela conta, ainda, que sempre ouviu de sua mãe, a importância da independência. “Você tem que ter o seu trabalho, dinheiro, desejos e aspirações. Sem medo de julgamentos ou retaliações. Se quiser casar, case-se; se quiser divorciar, divorcie-se; se quiser ser mãe, seja mãe. Seja você”, exclama a profissional, que complementa: “Precisamos mudar o futuro, ensinando nossos filhos e filhas que somos iguais. Que não existe trabalho de homem ou de mulher”.
Grandes mulheres. “Minha inspiração profissional sem dúvida foi a minha mãe. Começou a trabalhar ainda adolescente, concluiu a universidade de Licenciatura em Geografia, passou em todos os concursos que participou, chegou a trabalhar em dois empregos, mas nunca, deixou de ser uma boa mãe, esposa, dona de casa e acima de tudo, sempre teve destaque em todos os empregos que teve”, comenta Priscilla Rocha, gerente Nacional de Vendas da Ceva Saúde Animal.
Filha de avicultura, Priscilla brinca que foi aquecida junto aos pintinhos no alojamento. Durante a faculdade, fez está estágio trabalhando com outras espécies, mas logo retornou para a sua paixão: aves de produção.
“Por muito tempo a veterinária e principalmente a avicultura era considerada para homens, acho que esta realidade começou a mudar quando observamos professoras de Ornitopatalogia e Epidemiologia como as Professora Tomoe Saukas e Massaio Mizuno se destacando na avicultura nos anos 80 e 90”, exemplifica.
Na Ceva há oito anos, a profissional conta que suas atividades são dividas entre o campo e o escritório, mas que acima de tudo, leva as lições aprendidas com o exemplo de sua mãe, sempre pautada pela disciplina e organização.
Texto original: http://feedfood.com.br/pt/da-semana/mercado/nossas-carreiras-nao-podem-esperar-a-igualdade