Bronquite Infecciosa em Aves

Esforços contínuos para caracterizar isolados de campo do vírus da bronquite infecciosa (VBI ou IBV do inglês Infectious Bronchitis Virus) emergentes de operações de produção de frangos, poedeiras ou matrizes em diferentes países permitem desenhar mapas epidemiológicos sobre a distribuição geográfica das diversas cepas de VBI presentes no mundo. Usando técnicas de biologia molecular altamente sensíveis é possível detectar rapidamente o IBV e genotipa-os (qRT-PCR/sequenciamento).

A PCR em tempo real mostra possibilidades limitadas de classificação genética (o que pode ser suficiente para determinados objetivos), mas, sem sequenciamento, a identificação de alterações aleatórias é extremamente limitada com esse método. No entanto, avanços e simplificações constantes nessas metodologias sensíveis nos permitem entender melhor a evolução contínua do IBV em diferentes partes do mundo e a prevalência de várias cepas de IBV no campo. Como muitas cepas de IBV são geradas ao longo do tempo, algumas delas desaparecem em um curto período de tempo e algumas delas prevalecem e se espalham para outras regiões do mundo. Diante das constantes mudanças nas cepas de IBV e da necessidade de proteger populações de aves suscetíveis, é ideal ter vacinas homólogas para induzir uma forte proteção contra o vírus circulante.

No entanto, a maioria desses vírus desaparece e é uma tarefa muito desafiadora e praticamente impossível desenvolver uma vacina de IBV contra cada um deles. Desenvolver e licenciar uma vacina é um processo demorado e caro, que pode ser desperdiçado se o vírus não estiver mais presente no campo. Trabalhos publicados até o momento indicavam a circulação de apenas cepas de dois genótipos em todo o território brasileiro, GI-I (Cepa Massachusetts) e GI-11 (Cepa BR-I) (ABREU, 2000; CARRANZA, 2015; CHACÓN et al., 2011a; FELIPPE et al., 2010; FRAGA et al., 2018; VALASTRO et al., 2016). Sendo que as vacinas vivas atenuadas registradas no país contém esses dois genótipos, o que permite o controle baseado em cepas homólogas aos desafios de campo.

No entanto, em 2021 foi isolado uma nova variante de Bronquite infecciosa no estado do Paraná, pertecente ao genótipo 1, linhagem 23, que foi associado a casos clínicos de aerossaculite (TREVISOL, 2022). Para essa região com circulação estabelecida de 3 genótipos, é necessário lançar mão de outra estratégia vacinal, o protectotipo, descrito por COOK et al., 1999.

O período de incubação do IBV é curto e dependente da dose; pode ser inferior à 18 horas quando o vírus é inoculado por via intratraqueal ou 36 horas após a aplicação ocular (Cavanagh & Gelb Jr., 2008).

Em galinhas até 4 semanas de idade, a BI se manifesta na forma de sinais respiratórios graves (espirros, tosse e estertores). Rinite e conjuntivite, depressão e aglomeração em torno de fontes de calor são observadas.

O diagnóstico da Bronquite Infecciosa é um dos desafios para o controle da doença, pois os sinais clínicos no sistema respiratório são comuns em outras doenças avícolas.

A taxa de morbidade pode chegar à 100%. A mortalidade em galinhas jovens é geralmente insignificante, a menos que ocorra uma infecção secundária com um agente diferente. Nesses casos, há infiltração de células inflamatórias moderada à grave da mucosa do trato respiratório superior, resultando em mucosa espessada e mais compacta.

Em galinhas com um dia de idade, a infecção por BI pode danificar permanentemente o oviduto, influenciando na produção e qualidade dos ovos durante o período de produção.

Em poedeiras infectadas com o vírus BI, observam-se ooforites e lesões necrobióticas distróficas acometendo principalmente o terço médio e final da mucosa de revestimento do oviduto. O oviduto é atrofiado, cístico, com depósitos de gemas ou ovos completamente formados na cavidade abdominal (a chamada camada interna).

As consequências são queda na produção de ovos, aparecimento e aumento do número de ovos deformados e sem pigmentação ou ovos com casca mole e albúmen aquoso.

O efeito nefropatogênico da infecção pelo VBI geralmente se manifesta em galinhas com mais de 4-6 semanas de idade e lesiona o trato reprodutivo após o início da postura (Crinion & Hofstad, 1972; albassam et al., 1986).

A gravidade da infecção respiratória relacionada à BI é complicada por patógenos bacterianos ou virais secundários, ou seja, E. coli, Mycoplasma gallisepticum, vírus da doença de Newcastle, etc., resultando em aerossaculite crônica e pneumonia.

Galinhas doentes são a fonte de infecção, espalhando o VBI por via aerogênica, bem como algumas disseminadas por ração e água.

Aves adultas também representam uma importante fonte de infecção, como portadores assintomáticos que eliminam o vírus em secreções oronasais e fezes. Um certo padrão estacionário é observado, sugerindo uma excreção contínua do agente pelas aves recuperadas.

A re-excreção de galinhas que foram negativas para o vírus BI por um certo período, após a recuperação da inoculação com 1 dia de vida, também foi registrada (Jones & ambali, 1987). A excreção prolongada e intermitente é um risco potencial de transmissão de infecção entre lotes através de funcionários ou equipamento.

As pesquisas existentes sobre a epidemiologia das infecções por BI mostram que a disseminação de uma cepa de uma região/estado para outra pode resultar do comércio de aves, aves migratórias ou uso de vacinas atenuadas (Cavanagh, 2005). A detecção do IBV em aves não galináceas permite supor que outras espécies de aves também possam ser vetores da doença (Cavanagh & Gelb Jr., 2008).

Frangos e galinhas poedeiras de todas as idades são suscetíveis à infecção. A doença é mais grave em aves jovens de até 3-4 semanas de idade com patologia clínica respiratória e resultados fatais. À medida que a idade avança, as aves tornam-se mais resistentes.

Como a doença da Bronquite Infecciosa é causada por um vírus, não há outro tratamento além do controle das infecções secundárias causadas por bactérias. Essas infecções secundárias podem ser tratadas com antibióticos para reduzir os efeitos no desempenho e nos resultados do lote.

Assim, medidas preventivas são importantes para prevenir surtos de BI, focando tanto no controle específico quanto no inespecífico da doença. As medidas específicas incluem a vacinação do lote, enquanto as medidas não específicas são baseadas nas normas relevantes, como a biosseguridade.

GESTÃO DE BIOSSEGURIDADE DO VBI

Os procedimentos de manejo, criação e controle de biossegurança devem estar em conformidade com as regras comumente aceitas para biosseguridade na indústria avícola.

Como o controle de BI em lotes de aves de várias idades é muito difícil, pois a transmissão do vírus será alta, diferentes faixas etárias devem ser alojadas separadamente. Além disso, todos os sistemas de produção devem aplicar estritamente o princípio “tudo dentro, tudo fora” para o despovoamento das instalações.

A limpeza, lavagem e desinfecção das instalações, equipamentos, ferramentas e veículos de transporte devem ser feitos de forma a reduzir a carga de vírus presente, assim como a remoção e gestão de dejetos produzidos.

VACINAÇÃO CONTRA IBV

A vacinação utilizada nas granjas comerciais irá desenvolver a imunização ativa contra o IBV. As vacinas vivas são geralmente atenuadas, preparadas a partir de cepas vacinais selecionadas de acordo com o espectro antigênico de isolados regionais (Cavanagh & Gelb Jr., 2008). Também é

importante determinar o potencial de proteção cruzada, principalmente aplicável para vacinas vivas.

Vacinas com adjuvante de óleo inativado contra BI são aplicadas como vacinas de reforço para prolongar a proteção de poedeiras e lotes de matrizes; geralmente estão disponíveis como vacinas polivalentes que também incluem ND, IBD e/ou outras cepas vacinais. As vacinas inativadas requerem aplicação individual, geralmente por injeção subcutânea ou intramuscular.

Após a vacinação adequada com vacinas vivas e inativadas, os anticorpos formados garantem uma imunidade prolongada e estável dos lotes vacinados. A eficácia das vacinas inativadas depende da aplicação adequada da primo vacinação ou “priming”. A aplicação em massa de vacinas vivas é geralmente realizada por pulverização gota grossa (Andrade et al., 1983). Outras vias de administração de vacinas vivas incluem aplicações individuais intranasais ou intraoculares.

O Vírus da Bronquite Infecciosa infecta aves comerciais de todas as idades. Imediatamente após ingresso pelas vias respiratórias, o vírus se replica em tecidos respiratórios superiores e traqueia da ave.

Na sequência, atinge outros tecidos causando lesões em órgãos dos sistemas reprodutivo e urinário principalmente. Esta capacidade do agente viral de se replicar em diferentes órgãos levará à aparição de diferentes quadros clínicos. O tipo e a severidade do quadro clínico predominante dependerão do tropismo viral, mas também da idade e do status fisiológico da ave, e das condições meio ambientais predominantes.

O Banco Mundial, em 2011, estudou as dimensões das perdas econômicas provocadas pelas doenças infecciosas em todo o mundo por meio da análise de dados do Sistema de Informações Mundial para Saúde Animal (WAHIS) da OMSA. Para os cálculos, foram contabilizadas as perdas por morte, sacrifício sanitário e descarte parcial e total de carcaças no abatedouro.

O estudo concluiu que as 3 doenças de maior impacto global são Influenza Aviária de alta patogenicidade (IAAP), Bronquite Infecciosa e Influenza Aviária de Baixa patogenicidade (IABP) (BANCO MUNDIAL, 2011).

Gráfico – 10 doenças de maior impacto econômico para avicultura industrial no Mundo – Perdas em milhares de U.A

As perdas podem ser categorizadas em perdas de campo e de processamento, de acordo com onde os efeitos da doença são observados.

Impacto nas Granjas

As infecções em frangos de corte causam lesões macro e microscópicas principalmente nos tratos respiratório e renal, sendo necessário a antibioticoterapia para conter o aumento da mortalidade por agentes bacterianos secundários. A inflamação das vias respiratórias, o estado febril, a dor, a intoxicação devido à falha renal afetaram o

consumo, ganho de peso e conversão alimentar, prejudicando os indicadores produtivos do lote.

As aves com febre, estresse calórico e dificuldade respiratória resultantes da infecção morreram durante o transporte da granja ao frigorífico pelo agravamento do quadro clínico.

As lesões produzidas pela infecção na granja levaram a condenações parcial e inclusive total da carcaça. Os tipos de condenações sanitárias originadas pelas lesões causadas pelo VBIG podem ser observados na figura 1. O aumento de tempo para realizar a inspeção e retirar as partes afetadas das carcaças de lotes infectados diminuem a velocidade ou ocasionam paradas da linha de abate, aumentando o custo do produto final.

A mortalidade tardia observada em lotes de frangos infectados é especialmente prejudicial, pois as aves estão próximas do peso e idade ideais para o abate. Então, todo o investimento, como alimentação, já foi feito.

Medicamento: Devido à prevalência de infecções respiratórias secundárias oportunistas, como bacterianas como E. coli, em muitos casos há necessidade de tratar o lote com antibióticos. O custo do tratamento é alto, podendo afetar a rentabilidade da produção avícola.

Tabela 1: Chacon, J. Impact of the IBV infection in field poultry production in different companies in Latin America.

IMPACTO NO MATADOURO:

O ambiente de intensa competitividade na comercialização da carne, associado à pressão do ambiente institucional, aumenta a necessidade de preservar e garantir credibilidade na forma como os animais são abatidos nos frigoríficos, garantindo a segurança alimentar, e ao mesmo tempo apresentando um resultado econômico de viabilidade operacional.

Segundo o especialista em abatedouros José Maurício França, do Brasil, o desempenho das operações industriais nos frigoríficos resulta da interação de variáveis que dependem das características da matéria-prima recebida (principalmente em relação ao desempenho e uso de carcaças), a saúde dos lotes e o uso adequado das carcaças. A qualidade da carne e o processamento tecnológico das carcaças são fatores aqui.

Para obter resultados positivos de desempenho industrial, mesmo antes do processamento, consideramos o rendimento de carcaça em função das variáveis relacionadas à genética e nutrição. Isso é influenciado pela uniformidade dos lotes, bem como pelas instalações de criação dos frangos de corte. Portanto, a interação das variáveis-chave, incluindo: os animais, manejo, nutrição, instalações e, finalmente, saúde, determinará o desempenho do processamento industrial. O sucesso da operação comercial será caracterizado pela matéria-prima recebida, considerando o peso vivo recebido, e até mesmo o número total de animais em condições de abate e processamento.

A integridade da carcaça leva em consideração as condições sanitárias dos frangos recebidos, determinadas pelo indicador de condenação. Isso é expresso em kg condenados, em unidades totais de aves, ou total parcialmente condenado. Ainda, considerar a necessidade de distinguir as causas, considerando se as causas das condenações estão relacionadas ao ambiente de granja ou ambiente de abate, conforme estabelecido pela Inspeção Veterinária.

Conforme explicado, as perdas no processamento de abatedouros podem vir principalmente de dois lados: impacto na produtividade da linha de processamento, ou perdas de carne por condenações.

Produtividade da linha de processamento: Devido à morbidade e à diminuição do ganho de peso, a uniformidade do lote é afetada. A perda de uniformidade afeta diretamente a produtividade da linha de abate, com diminuição da velocidade da linha de produção, causando atrasos.

Condenações: Lotes infectados pelo VBI podem apresentar condenações parciais ou totais da carcaça, oriundas de infecção respiratória (como aerossaculite) ou de infecções secundárias (como colibacilose).

Tabela 2: Chacón, J. Impact of the IBV infection in slaughterhouse processing in different companies in Latin America.